Muita inflação e pouco
crescimento: pano de fundo de eleições na Argentina
(17 out) Ato em Buenos Aires de
apoio aos candidatos do partido Cambiemos nas eleições legislativas
O governo
de Mauricio Macri espera receber um forte apoio nas eleições legislativas de
domingo, apesar da inflação que atinge o bolso dos argentinos, em um cenário de
tímido crescimento econômico.
"O
panorama é bastante positivo. A economia se reativou mais do que
esperávamos", disse à AFP Héctor Rubini, economista e professor da
Universidade del Salvador, particular.
Contudo,
Macri não conseguiu conter a alta do custo de vida - sua principal promessa
durante a campanha de 2015.
"A
dinâmica positiva trouxe efeitos secundários a curto prazo: aumento da
inflação, movimentos sociais, gargalos persistentes em infraestrutura", de
acordo com um relatório recebido pela AFP da Coface, a companhia francesa de
seguros para Comércio Exterior.
A
economia cresceu 1,6% no primeiro semestre deste ano, apesar de não ter
conseguido recuperar o recuo de 2,3% em 2016, o primeiro ano de Macri, que
almeja conquistar mais assentos no Congresso - onde só consegue a maioria por
meio de alianças políticas com seus opositores moderados.
"O
Banco Central não conseguirá alcançar seu objetivo de 1% de inflação mensal no
último trimestre do ano", disse à AFP Pablo Tigani, diretor da consultoria
de mercado Hacer.
A
inflação acumula, até setembro, 17,6%, acima da meta do BC e do governo, de 12%
a 17% para o ano inteiro.
-
"Brotos verdes" -
"Tecnicamente,
há cinco meses de indicadores positivos, mas não é o suficiente para ser notado
na renda real", explicou Rubini.
Apesar
dos "brotos verdes", como o governo chama essa sutil evolução, as
pessoas viram crescer os preços dos bens e serviços constantemente, enquanto os
salários e a renda seguem em ritmo lento.
"A
sustentabilidade da recuperação econômica dependerá do resultado das eleições.
Se (a candidata opositora e senadora Cristina Kirchner) conseguir um bom
resultado, poderia tentar voltar à Casa Rosada (sede do governo), com risco de
ameaçar a política empresarial", acrescentou a Coface.
Macri é
bem quisto pelos mercados. Ele reduziu os impostos no campo e reparou dívidas
não pagas. Muito diferente do kirchnerismo que governou durante 12 anos a
Argentina e sustenta suas propostas acerca do papel central do Estado e das
políticas de assistência social.
"Eu
deixei de comprar itens básicos, como iogurte, queijo, sobremesas. É difícil
manter o padrão de vida, e isso porque eu tenho trabalho", disse Gimena
Toro, uma empregada doméstica de 36 anos, com dois filhos e um marido pedreiro.
Com a
memória fresca de um passado de hiperinflação na década de 1990, os argentinos
exercitam a criatividade.
Uma
pesquisa do Centro Estratégico para o Crescimento e Desenvolvimento Argentino
(Cecreda) mostrou que 78,9% admitem que a situação econômica impactou seu
consumo diário: 55,2% deixaram de consumir certos alimentos ou passaram a
comprar marcas piores, e 71, 2% evitam comprar roupas.
Além
disso, 79,1% admitiram que deixaram de gastar com lazer, e 62,9% abriram mão
das férias.
Apesar
disso, todos os índices apontam para uma mínima recuperação econômica, que o
governo exibe como um estandarte.
"O
principal setor é a construção, fervilhando com uma injeção de hipotecas com
retornos duvidosos. Na conjuntura, a economia é um fator positivo para o
partido no poder", refletiu Tigani.
- Chuva
de investimentos -
Apesar do
reconhecimento internacional ao governo Macri e do apoio de Estados Unidos,
França, Itália e Espanha, entre outros, a chamada "chuva de
investimentos" não aconteceu.
"Era
esperada para o segundo semestre de 2016 uma chegada de investimentos
estrangeiros diretos que não ocorreu e foi substituída pela chegada de fundos
para títulos, ou financeiros", explicou Rubini.
A
política monetária favoreceu isso, com a oferta de títulos com bom rendimento,
o que aumentou a dívida.
Na luta
contra a inflação, o BC emite títulos em pesos e paga 27%. "Essa é uma
bomba relógio", alertou Rubini.
"É
por isso que o médio e longo prazo são cruciais nesta eleição: do exterior, a
Argentina ainda é vista como um país arriscado, porque ainda precisa fazer
reformas regulatórias e institucionais para dar mais garantias ao investimento
estrangeiro", opinou o analista.
Comentários
Postar um comentário