SYLVIA
COLOMBO
BUENOS
AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) -
Medidas econômicas impopulares e tropeços
administrativos da gestão Mauricio Macri estão consumindo o capital político
adquirido pelo governo da Argentina com a vitória nas eleições legislativas de
outubro.
O
presidente tinha, na ocasião, 58% de aprovação popular. Hoje, segundo pesquisas
feitas no final de janeiro, Macri está com entre 40% e 45% (conforme a
enquete).
Outros
números preocupam: 44,7% dos argentinos crêem que a situação econômica está
pior agora do que no início de seu mandato (instituto Management & Fit);
59% se dizem insatisfeitos ou muito insatisfeitos (pesquisa da Universidad San
Andrés) com a gestão. Quanto à inflação, 43% esperam que piore, e 35%, que
fique como está (pesquisa Opinaia).
Os ânimos
começaram a mudar em dezembro, quando o governo aprovou a reforma da
Previdência em meio a um cenário de violência que deixou dezenas de feridos.
O governo
argumenta que as reformas propostas, assim como o fim dos subsídios da era
kirchnerista (2003-15), são um ajuste necessário, pois o país não cresce como
naquela época e não pode arcar com o imenso gasto social de gestões anteriores.
Macri vem
adotando uma política de retirada de benefícios gradual. Mesmo assim, a cada
leva de aumentos que promove, há uma onda de descontentamento.
Em meados
de 2016, houve o primeiro "tarifaço", que retirou parte dos subsídios
dos serviços, causando aumentos de até 400%. A população reagiu com panelaços.
No início
de fevereiro, entrou em vigor outro "tarifaço", com aumentos de até
50% em transporte, gás e eletricidade. Junto, veio uma desvalorização do peso
-no fim da era Kirchner, 9 pesos compravam US$ 1, hoje são necessários 20.
Com isso,
voltaram a faltar artigos importados, e áreas como a da construção, em que as
operações são feitas em dólar, desaceleraram.
No dia 9,
houve greve parcial de algumas categorias e, no próximo dia 21, haverá outra
mais ampla promovida pela central sindical CGT.
A pressão
dos sindicatos levou o governo a adiar a reforma trabalhista, prevista para
fevereiro, e anunciar que ela será "parcelada" em várias leis no
segundo semestre.
INFLAÇÃO
Os
aumentos nos serviços são apenas um dos obstáculos para reduzir a inflação.
Quando Macri assumiu, em dezembro de 2015, o índice real (não o maquiado pelo
governo Cristina) era de 35%. Em 2016, subiu para 40%. Em 2017, baixou para
24%.
Trata-se
de uma redução considerável, mas a cifra ainda é a segunda da região, depois
apenas da Venezuela.
Em
dezembro, o governo recalculou metas: a ideia agora é tentar fechar 2018 com
15% e não com os 10% planejados, e chegar a uma inflação de um dígito não mais
em 2019, mas só em 2020 --depois da eleição presidencial.
"É
um problema difícil", diz o economista Marcelo Elizondo. "A Argentina
tem um deficit de orçamento muito alto. Para financiá-lo, se endivida em
dólares no exterior e joga mais pesos no mercado, o que causa mais
inflação", explica.
E
acrescenta: "A retirada de subsídios é um remédio para consertar a
política equivocada do governo anterior. Só que, a curto prazo, causa aumentos
impopulares".
Os
investimentos estrangeiros que Macri vislumbrou ao assumir com o discurso de
"abrir a Argentina ao mundo", após anos de rejeição pelos mercados,
chegam a conta-gotas. "A Argentina se abriu e derrubou travas quando a
economia mundial desacelerava e o protecionismo era retomado por parceiros
importantes", diz Elizondo.
Em
janeiro, o investimento estrangeiro caiu 4% frente ao mesmo mês de 2016,
segundo o Banco Central local.
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