sex., 27 de janeiro de 2023
O caso do assassinato a socos e pontapés do jovem
Fernando Báez Sosa na Argentina, atacado por oito jogadores de rúgbi em uma
briga bastante desigual, é um chocante coquetel de ódio "classista",
"racista" e "machista" – avaliam sociólogos entrevistados
pela AFP.
Os fatos ocorreram há três anos, em frente a uma
boate do balneário de Villa Gesell, 375 km ao sul de Buenos Aires, durante as
férias de verão no sul. O julgamento oral desse crime despertou um fascínio
nada comum na sociedade, que aguarda o veredito do tribunal de três juízes em 6
de fevereiro.
Com exceção da inflação galopante (95% em 2022),
não se fala em outra coisa no país.
"A questão de classe tem um papel importante
neste caso. A maioria dos 'rubgiers' são de famílias ricas da cidade",
neste caso, de Zárate, disse o sociólogo Guillermo Levy, professor nas
universidades de Buenos Aires e Avellaneda.
No julgamento que acontece em Dolores, procuradores
e denunciantes pediram prisão perpétua para os oito réus, como “coautores do
crime de homicídio duplamente qualificado por traição e concurso premeditado”.
“É verdade que é um coquetel de violência, racismo,
machismo, álcool etc. Mas vou agregar o componente da formação do rúgbi. O agir
em manada pode estar sendo reflexo", avaliou Facundo Sassone, sociólogo e
técnico de rúgbi no clube de Ginástica e Esgrima de Ituzaingó.
- "Reflexão sobre a sociedade"
O advogado Hugo Tomei, da defesa, ele mesmo um
ex-jogador de rúgbi em um clube de Zárate, pediu "absolvição", alegando
que "não foi possível provar o plano de matar", nem quem foi, ou
quais foram, os autores do crime.
“A reflexão deve ser sobre a sociedade que produz
isso, e não se eles são loucos, se são psicopatas, porque aí erramos”, disse
Levy.
Fernando Báez Sosa, de 18 anos, discutiu com o
jogador de rúgbi MáximoThomsen, hoje com 23, dentro da discoteca e deu-lhe um
soco.
Os promotores afirmam que Thomsen instigou seus
colegas a se vingarem. Na porta do estabelecimento, cercaram Báez Sosa,
agrediram o jovem até derrubá-lo no chão e continuaram a chutá-lo,
inconsciente, até causar sua morte.
Um dos "rugbiers" gritou: "Negro de
merda, matem ele!", segundo testemunhas oculares que depuseram no
julgamento.
As cenas foram registradas em vídeos, inclusive de
um celular dos agressores, e corroboradas em chats, assim como por laudos
periciais de DNA e sangue.
“O apelo à negritude de Fernando durante a agressão
é inevitável, e nós nos responsabilizamos pelo racismo e pelo classismo”, disse
Sebastián Bruno, sociólogo e pesquisador em Ciências Sociais.
"Os setores médio e alto marcaram, ou
rotularam, aqueles que foram protagonistas dos movimentos migratórios",
completou.
- Masculinidade violenta
Báez Sosa era filho de uma cuidadora de idosos e de
um pedreiro, ambos imigrantes paraguaios. Havia começado a carreira de
advogado, depois de se formar em uma faculdade paroquial católica e fazer
trabalhos de caridade.
Os acusados, agora com idades entre 21 e 23 anos e
em prisão preventiva desde 2020, deram declarações como "peço perdão",
"peço desculpas", "não houve intenção de matar", "não
houve um plano (de assassinar)" e "estou arrependido".
“Foi atacado de surpresa, traiçoeiramente, causando
múltiplas lesões no crânio e no fígado, com hemorragia intensa. Concordaram em
matá-lo”, disse o promotor Gustavo García em sua alegação.
Levy afirmou: "Há o aplauso da violência
machista, da patota, da maldade. E também classismo. Negro de merda, paraguaio
(apesar de ter nascido na Argentina)".
No país, o rúgbi é amador e, historicamente, são os
setores de classe média e alta que praticam esse esporte, ou assistem aos
jogos.
A União de Rúgbi de Buenos Aires organizou oficinas
depois do crime para reeducar jovens que foram treinados para agir em grupo e
com violência diante de uma agressão.
dm-pbl/yow/tt
Fonte: https://br.yahoo.com/noticias/racismo-machismo-e-classismo-motivaram-145532786.html
27-01-23
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