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Dilma diz a jornais estrangeiros que impeachment não tem fundamentos legais



25 de Março de 2016
A presidenta Dilma Rousseff procurou demonstrar confiança em entrevista a seis jornais estrangeiros, ontem, em Brasília, diante da crise política que o país enfrenta. Dilma falou com jornalistas do The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), The Guardian (Inglaterra),Página 12 (Argentina), Le Monde (França) e Die Zeit (Alemanha).
Jornais como britânico The Guardian e o americano New York Times destacam os comentários de Dilma sobre o processo de impeachment que tramita na Câmara dos Deputados, as críticas a seus opositores e o tom desafiador dela diante dos pedidos de renúncia. Aos jornalistas estrangeiros, ela disse que o pedido de afastamento em curso “não tem fundamentos legais”.
Esta, aliás, é a terceira vez nas duas últimas semanas que Dilma afirma que não renunciará. No dia 11, a dois dias das manifestações de grupos contrários ao governo realizadas em todo o país, em pronunciamento após reunião com reitores dos institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia no Palácio do Planalto, ela fez a afirmação que ninguém tem o direito de pedir a renúncia de um mandatário sem provar que ele feriu a Constituição. E, nesta semana, no último dia 22, em encontro com juristas, ela discursou defendendo o próprio mandato, assegurando que jamais renunciará e que qualquer tentativa de afastá-la configura golpe.
Segundo os jornais estrangeiros, Dilma criticou fortemente o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por aceitar o pedido de impeachment contra ela, e lembrou que ele está envolvido em várias denúncias de corrupção. Questionada se aceitará a decisão do Congresso se for pela cassação do mandato, ela disse que “apelará com todos os métodos legais possíveis”.
A presidenta também acusou a oposição de não aceitar o resultado eleitoral de 2014 e de apostar na estratégia do “quanto pior, melhor” para o país. O The Guardian cita a alegação de Dilma de que Cunha e os oposicionistas têm sabotado a agenda legislativa do governo e incitado o país. “Nós nunca vimos tanta intolerância no Brasil. Nós não somos um povo intolerante”, disse a presidenta sobre os protestos, afirmando que menos de 2% da população brasileira foram às ruas e que parte de seus oponentes usa “métodos fascistas” para atacá-la.
O espanhol El País destaca não só que a presidenta disse ser o processo de impeachment "alto muito fraco", mas também que ela acusa o presidente da Câmara dos Deputados de ter tentado barganhar o andamento do processo de afastamento com o apoio do governo contra o possível processo de cassação que ele pode enfrentar no Conselho de Ética, devido à constatação de que ele tem movimentações em contas na Suíça. “Digo a vocês como esse processo surge: o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para evitar que a Câmara o investigasse, quis negociar com o governo. Se nós não votássemos contra essa investigação, ele punha o processo em curso. Cunha foi denunciado pelo Ministério Público Federal porque encontraram cinco contas na Suíça. Não sou eu quem digo, quem diz é o Ministério Público Federal".
Tanto o The Guardian como o El País destacam o que Dilma Rousseff respondeu sobre os pedidos de renúncia que manifestantes contrários ao governo e a oposição, na Câmara, têm feito. “A oposição me pede que eu renuncie. Por que? Porque sou uma mulher frágil? Não, não sou uma mulher frágil. Minha vida não foi isso. Pedem que eu renuncie para evitar a pecha de ter colocado em curso, de forma ilegal, indevida e criminosa, o processo de afastamento a uma presidenta eleita. Pensam que devo estar muito afetada, que devo estar completamente desestruturada, muito pressionada. Mas não estou assim, não sou assim. Tive uma vida muito complicada para não ser capaz agora de lutar pela democracia do meu país. Aos 19 anos fui à prisão, na ditadura, e não era uma prisão fácil. Era muito dura. Eu lutei em condições muito difíceis. Ou seja, não vou renunciar, claro que não".
O americano New York Times explica que, além do impeachment na Câmara dos Deputados, a presidenta e o vice-presidente, Michel Temer, sofrem processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode determinar a cassação dos mandatos de ambos caso se confirme receberam dinheiro ilegal do esquema de corrupção da Petrobras em suas campanhas de 2010 e 2014. Isso pode, lembra o jornal, abrir caminho para novas eleições no Brasil.
A relação de Dilma com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a nomeação dele para ministro-chefe da Casa Civil também foram assunto da entrevista, que durou cerca de uma hora e meia, segundo os jornais. O New York Times lembra que Lula e o estrategista de campanha de Dilma, João Santana, estão envolvidos nos escândalos que assolam o país, mas ressalta que a presidenta defendeu o ex-presidente, a quem chamou de “parceiro”.
Segundo o jornal americano, a nomeação de Lula foi justificada pelo talento político dele e sua grande capacidade de articulação em um momento em que o governo está sob forte tensão. Ela negou que tenha havido uma tentativa de proteger o ex-presidente com a nomeação e argumentou que ele continuaria respondendo à Justiça se fosse ministro, porém, ao Supremo Tribunal Federal.
A presidenta ainda disse, segundo o New York Times, que não é agradável o momento que está passando, mas que apesar disso não é uma “pessoa depressiva”. “Eu durmo bem a noite toda”, afirmou Dilma aos jornais estrangeiros.
Após a entrevista no Palácio do Planalto, a presidenta passou pela Alvorada e depois embarcou para Porto Alegre, onde passará o feriado de Páscoa.

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