Argentina paralisada em
primeira greve geral contra Macri
06-04-17 // 10:10
A
Argentina amanheceu nesta quinta-feira apagada: sem voos nacionais ou
internacionais, nenhum meio de transporte público e com ruas bloqueadas devido
a uma greve geral de 24 horas contra o modelo econômico aplicado há 16 meses
pelo presidente Mauricio Macri.
A
paralisação coincide com a realização em Buenos Aires do primeiro Fórum
Econômico Mundial dedicado à América Latina (WEF Latam), que reunirá políticos,
banqueiros e empresários no exclusivo bairro de Puerto Madero, sob fortes
medidas de segurança.
Em um dia
onde estão previstas dezenas de manifestações e bloqueios nos acessos a Buenos
Aires, organizações sociais marcaram uma passeata rumo ao hotel Hilton, que
abriga o fórum, a partir das 11h00 locais (mesmo horário de Brasília), horário
em que Macri abrirá o evento organizado pela fundação suíça que realiza o
encontro anual em Davos.
"Há
um mal-estar enorme porque a política econômica não deu resultados" com
seu modelo liberal de maior abertura às importações e flexibilidade
trabalhista, declarou Juan Carlos Schmid, secretário-geral da influente
Confederação Geral do Trabalho (CGT), controlada pelo opositor peronismo.
Segundo
Schmid, nos 16 meses de Macri no poder "se destruiu mais emprego que se
criou e o custo recaiu sobre os assalariados e os setores vulneráveis",
disse ao canal TN.
Buenos
Aires não contava na manhã desta quinta-feira com trens, metrô e ônibus.
Sindicatos aeronáuticos, de técnicos e trabalhadores aderiram à greve e pela
primeira vez nenhum voo internacional chegará ao país em 24 horas, informaram
os sindicatos do setor.
A medida
também afeta indústria, saúde, educação e serviços bancários, com manifestações
e bloqueios em todo o país.
Uma forte
mobilização policial tentava evitar o bloqueio das entradas da capital, onde
centenas de militantes de organizações sociais e grupos de esquerda chegaram
desde a madrugada.
"É
uma medida extrema que custa bilhões de dólares ao país", disse a
vice-presidente Gabriela Michetti ao canal de notícias TN minutos antes do
início da greve, à meia-noite desta quinta-feira.
A
terceira maior economia da América Latina segue em recessão. Caiu 2,3% no
primeiro ano do governo de Macri e apenas em janeiro houve uma leve
recuperação, ainda imperceptível para a classe média e trabalhadora.
A pobreza
aumentou e alcança 32,9% dos argentinos. Os investimentos caíram 5,5%. A
produção industrial está em queda há 13 meses.
- No
vermelho -
Esta
greve é o corolário das grandes marchas de março organizadas por sindicatos,
estudantes, organizações de direitos humanos e opositores, que tomaram as ruas
diante de uma situação social e econômica em deterioração.
A
inflação, que de acordo com consultores chegou a 40% em 2016, evaporou o poder
aquisitivo do salário e o consumo interno está em queda há 13 meses.
Estimativas
privadas situam a inflação em 21% para este ano, enquanto o governo insiste que
será de 17% e busca impor este limite a reajustes salariais.
As
demissões totalizaram 250.000 na economia formal, mas estima-se que se
multiplicam por milhares em uma economia com 40% de trabalho não registrado.
A indústria
e a construção, principais pilares do emprego, entraram em colapso, e em
fevereiro caíram 6% e 3,4%, respectivamente.
A chuva
de investimentos prometida por Macri ao assumir a presidência, em dezembro de
2015, ainda não ocorreu.
Segundo
estudos da Universidade Católica, a pobreza que afeta um terço da população
continua aumentando e a indigência disparou.
-
"Mafiosos" -
Em meio à
polarização política, Macri endureceu nesta semana sua postura em relação aos
sindicalistas, depois que no sábado dezenas de milhares de pessoas
surpreenderam com uma concentração inédita para expressar apoio ao seu governo.
"Há
comportamentos mafiosos em sindicatos, empresas, política e justiça. Felizmente
eles são minoria, mas é preciso combatê-los", indicou o presidente
liberal.
O governo
anunciou uma operação de segurança que terá por objetivo garantir a livre
circulação dos que não quiserem aderir à paralisação.
Uma
convocação para romper a greve foi promovida nas redes sociais sob a hashtag
"#YoNoParo".
Como
reflexo do estado de espírito que reinava antes da greve, o chefe do sindicato
dos taxistas, Omar Viviani, convocou a virar os carros dos colegas que fossem
trabalhar, declaração que posteriormente considerou exagerada.
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