O que aconteceu na
Argentina? Entenda a semana
Por Alina
DIESTE y Ariela NAVARRO 17 de ago
Funcionária de supermercado em
Buenos Aires conta o caixa
A
Argentina viveu uma semana tumultuada, após as eleições primárias que puseram
em xeque o governo de Mauricio Macri e geraram ansiedade nos mercados.
A seguir,
cinco perguntas diante de um cenário de incerteza política e econômica:
- Por que
as eleições primárias afetaram a economia? -
A
Argentina realizou eleições primárias, no dia 11 de agosto, com indicações
previamente definidas e sem competição interna. As eleições se tornaram uma
pesquisa em escala real, e o golpe sofrido pelo presidente abalou a economia em
recessão desde 2018.
O liberal
Macri teve uma derrota esmagadora ao obter apenas 32% dos votos contra o
peronista de centro esquerda, Alberto Fernández.
Esse
resultado fez o peso despencar e causou uma queda de 31,44% no mercado de ações
de Buenos Aires, nos últimos cinco dias.
- Como a
perda de valor do peso impactou a dívida? -
A dívida
pública da Argentina ficou mais pesada com a perda de valor da moeda. Segundo
os últimos dados oficiais, a dívida pública equivale a 88,5% do Produto Interno
Bruto (PIB).
"Isso
ocorre, porque cerca de 80% da dívida do setor público é denominada em dólares,
ou em outras moedas, enquanto as receitas do governo e o PIB estão em
pesos", disse Carlos de Sousa, da Oxford Economics, à AFP.
O
economista acrescentou que "um peso mais fraco implica um endividamento
mais pesado e diminui a capacidade da Argentina de pagar suas dívidas".
- Por que
pode haver um novo "default" da Argentina? -
O mercado
está menos disposto a emprestar para a Argentina, trazendo de volta o fantasma
do calote de 2002, que isolou o país dos mercados globais.
"Já
que os mercados argentinos continuam sob pressão, é cada vez mais provável um
descumprimento da dívida soberana", opinou Edward Glossop, da Capital
Economics.
Carlos de
Sousa antecipa uma reestruturação da dívida que seria por definição - segundo
ele - uma moratória, no máximo até 2020.
"Mas
não esperamos uma inadimplência como em 2002. Deve ser mais um processo
ordenado, em que o FMI (Fundo Monetário Internacional) faz uma reavaliação da sustentabilidade
da dívida da Argentina", disse ele.
- O que
se espera do FMI? -
O FMI
concedeu à Argentina o maior empréstimo de sua história. Foram cerca de 57
bilhões de dólares em 36 meses, cujos vencimentos começam em 2021, em troca de
um severo ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas.
Até
agora, o Fundo desembolsou cerca de 44,1 bilhões de dólares desde que o crédito
foi aprovado em junho de 2018.
"Mas,
se a incerteza política continuar a confundir os investidores, é provável que o
próximo governo renegocie urgentemente com o FMI", disse Benjamin Gedan,
diretor do programa argentino do Wilson Center, um think tank de Washington.
- Quais
são os principais indicadores no futuro? -
O CEO da
Gear Capital Partners, Jorge Piedrahita, disse à AFP que há variáveis
importantes a serem consideradas, como depósitos em pesos e em dólares no
sistema bancário local.
"Embora
os bancos tenham uma boa posição de liquidez, o sentimento negativo e a fuga de
capitais podem forçar medidas drásticas por parte do governo: os controles de
capital são o primeiro item da lista", afirmou.
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