AFP - Liliana SAMUEL
24 de março de 2022
Dezenas de milhares de argentinos voltaram a marchar até a Plaza de Mayo
no aniversário de 46 anos do golpe de Estado que instaurou uma ditadura,
responsável por dezenas de milhares de desaparecimentos, exílios e execuções em
centros clandestinos.
Com o grito de "30.000 detidos-desaparecidos! Presente!", Taty
Almeida, da organização humanitária Madres de Plaza de Mayo-Línea Fundadora,
encerrou o ato, após alertar que "não vamos permitir que a democracia seja
prejudicada, desde que foi recuperada (em 1983) esta cidade cuidará dela para
sempre".
Em clima de comemoração pelo retorno às ruas da capital argentina após a
pandemia de coronavírus, que impediu a realização desta emblemática marcha em
2020 e 2021, os manifestantes exigiram "memória, verdade e justiça".
Essas três palavras foram repetidas em inúmeras máscaras
intervencionadas, enquanto outras tinham "Há 30.000" e "Nunca
mais" escritos nelas.
Algumas integrantes das Mães e Avós da Plaza de Mayo, todas com mais de
90 anos, acompanharam a marcha de um ônibus, enquanto uma enorme faixa de mais
de 200 metros com fotos dos rostos dos desaparecidos carregados por parentes
era desfraldada nas ruas e ativistas.
"Sigo os passos de minha mãe procurando meu irmão
detido-desaparecido em Misiones (nordeste), que está aqui (em uma foto) com os
30.000. Que nunca mais falte ao povo argentino democracia, participação,
compromisso" Queremos justiça, que nos digam o que aconteceu", disse
à AFP María Graciela Leyes, 63 anos, uma das que carregavam a faixa.
Na Argentina, a ditadura teve sucessivos presidentes. O primeiro a
assumir o cargo em 24 de março de 1976 foi Jorge Videla, que morreu na cadeia
aos 87 anos, condenado à prisão perpétua. Foi sucedido por Roberto Viola (março
a dezembro de 1981), Leopoldo Galtieri (dezembro de 1981 a setembro de 1982) e
Reynaldo Bignone (até 10 de dezembro de 1983).
- "Mais justiça" -
Mais cedo, outra manifestação massiva dos partidos radicais de esquerda
focou as críticas ao recente acordo do governo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) para refinanciar a dívida de cerca de 45 bilhões de dólares
concedida em 2018 ao ex-presidente liberal Mauricio Macri.
"30.000 companheiras e companheiros desaparecidos e detidos,
presentes! Não ao acordo governo-FMI!", dizia sua faixa.
O presidente de centro-esquerda Alberto Fernández liderou outro ato na
manhã em que foi anunciada a reparação dos arquivos de oito trabalhadores e
cientistas da Comissão Nacional de Ciência e Tecnologia (Conicet), onde
constará que eles sofreram "desaparecimento forçado".
"A ditadura foi impiedosa porque tinha medo do pensamento",
disse Fernández. "Todos sabemos que houve uma ditadura que perseguiu,
matou, assassinou, condenou ao exílio, fez a Argentina desaparecer como nenhum
outro governo jamais fez", acrescentou.
Ao seu lado, todo a seleção de futebol argentina, com seu craque Lionel
Messi, posou com uma grande faixa onde se lê "Mais memória, mais verdade e
mais justiça", publicada nas redes sociais.
A seleção argentina está concentrada em Buenos Aires, onde jogará nesta
sexta-feira contra a Venezuela pelas eliminatórias sul-americanas para a Copa
do Mundo do Catar 2022, em partida que seria disputada nesta quinta-feira e foi
remarcada a pedido de organizações de direitos humanos.
- Julgamentos e condenações -
Desde que as leis de anistia de 1986 e 1987 foram anuladas, os
julgamentos por crimes contra a humanidade foram retomados em 2006. 46 anos
após o golpe, a Argentina tem 20 julgamentos em andamento e outros 65 aguardam
data de início.
De acordo com dados da Promotoria de Crimes contra a Humanidade, até
agora 1.058 pessoas foram condenadas em 273 sentenças proferidas em todo o
país.
Atualmente existem 764 detidos, dos quais 118 estão em prisão e os
restantes em prisão domiciliária.
Outros 542 estão aguardando julgamento e 573 réus ainda não foram
chamados a depor. Entre os acusados, 964 morreram e 22 estão foragidos.
ls/atm/am
Fonte: https://br.yahoo.com/noticias/marcha-na-argentina-relembra-46-222421395.html 24-03-22
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