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CNA - Mecon - Minagri - UdeMM: Petralhas x Tucanalhas



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Petralhas x Tucanalhas

Matheus Pichonelli – seg, 6 de out de 2014


Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil
Definida a disputa do segundo turno para a Presidência, dois fenômenos devem se intensificar a partir desta segunda-feira, 6 de outubro. Um é o confronto mais bem delineado de projetos. Apesar das generalidades exploradas na campanha até aqui (todo mundo defende crescimento, todo mundo defende geração de emprego, todo mundo defende distribuição de renda), é mais fácil identificar diferenças pontuais, embora significativas, entre os programas de Dilma Rousseff e Aécio Neves. Este é um ponto.
O outro tem a ver com o acúmulo de feridas abertas pelos últimos seis confrontos entre as duas legendas. Não tenham dúvida: vem chumbo grosso por aí. Dilma já fala nos “perigos do retrocesso” e da “volta de fantasmas”. Aécio fala em “limpeza”.
A beligerância deve elevar os ânimos na disputa, como no filme de Paul Thomas Anderson: There will be blood. Nada que se compare, porém, com o grau de agressividade entre eleitores de uns e de outros.
Em parte porque as lideranças dos dois partidos estimulam o “nós contra eles”. E, em parte, porque não temos a cultura do debate. Nossa maior referência de ação coletiva não é a participação em movimentos de rua, de bairro, de condomínio, de partidos ou sindicatos, mas quando vestimos a camisa de nosso time e subimos para a arquibancada. Por isso a tolerância com o contraditório tem sido objeto raro nas eleições recentes, e nesta em especial. Pois, pela lógica da arquibancada, não há vitória sem eliminação.
Nunca antes na história desse país se gritou ou se ouviu tantas vezes a expressão “Fora”. “Fora Dilma”, “Fora PT”, “Fora tucanos”, “Fora Alckmin”. O imperativo denota os traços de autoritarismo carregados como lastros em nossa sétima eleição seguida desde a redemocratização. O "fora daqui" era a forma como patrões, proprietários e professores tratavam os vassalos, empregados e alunos em tempos pouco propícios ao consenso. A diferença é que, entre uma ordem e outra, há milhões de votos desprezados pela indignação seletiva de quem se sente “traído” pelos votos.
Como somos pouco afeito aos debates e a leituras mais, digamos, aprofundadas do que as correntes e memes de Facebook - os jornais, por exemplo, ainda são pouco lidos em um país que se acredita alfabetizado politicamente - o comportamento padrão dos mais engajados se confunde entre o torcedor indignado pelo pênalti não marcado, os hinos de “meninos, meninos!” das gincanas do Xou da Xuxa e a tensão de quem assiste aos debates na TV como quem vê a apresentação do filho no karatê. Em vez de debater, torcemos. E, ao menos por aqui, não se torce sem provocar a honra do rival, lembrados nos cânticos e gritos como bambis, gambás, porcada, tucanalha, petralha.
Essa polarização tem se acirrado com os anos. Hoje um eleitor de inclinações tucanas não pode pensar em expressar seu voto sem ser tratado como alguém que, na melhor das hipóteses, não gosta de pobres. O mesmo acontece com o petista que confessa o voto em roda tucana: é taxado automaticamente como o culpado por todas as “roubalheiras” que todos sabem repetir aos bordões, sem necessariamente citar detalhes ou envolvidos. 
O estigma leva a pensar que, em caso de reeleição da presidenta Dilma, o presídio da Papuda ganhará um anexo no Planalto. E que, em caso de vitória tucana, a primeira medida de Aécio será passar a mão no telefone e ligar para o FMI: “prepara as malas que estou chegando”. Aos “derrotados”, resta torcer contra, como quem é eliminado pelo Corinthians nas quartas-de-final e torce para o time se arrebentar na semi.
Este clima, azedado pelos dois lados, é alimentado diariamente por mensagens postadas ao arrepio da inteligência, a começar por frases jamais declaradas por Luis Fernando Veríssimo e Joaquim Barbosa. É o engajamento da frase curta, que daqui até o fim de outubro promete se intensificar. Que o bom senso e as amizades que sobrarem das rodas de conversa sobrevivam até 2015.


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