Camilla
Costa - @_camillacosta - Da BBC News Brasil em Londres
BBC News Brasil 20 de março de 2020
Com a
disseminação do novo coronavírus no Brasil se intensificando às vésperas do
outono, aumentaram as dúvidas sobre os sintomas da doença covid-19, que, na
maioria dos casos, são semelhantes aos de uma gripe comum.
No
Google, termos como "coriza" e "espirro" também têm sido
mais buscados em associação com a expressão "sintomas do coronavírus"
no último mês, o que pode indicar uma confusão também entre a covid-19 e outras
síndromes respiratórias brandas como o resfriado e a rinite alérgica.
"As
pessoas precisam estar cientes de que a covid-19 é realmente um tipo de gripe,
então ela tem realmente muitos sintomas em comum", disse à BBC News Brasil
o infectologista da Fiocruz Recife Paulo Sergio Ramos.
"Mas
elas precisam ficar atentas para uma possível dificuldade de respirar. Isso
sinaliza que a doença pode estar se complicando, e aí é necessário buscar um
serviço de saúde."
No Brasil,
as pessoas não devem procurar unidade de saúde se tiverem apenas tosse, apenas
coriza, apenas coriza e mal-estar ou sensação de moleza no corpo ou apenas
febre, segundo o Ministério da Saúde.
E quem
precisa ir ao hospital? Só quem apresentar os sintomas mais graves, como
dificuldade para respirar, respiração curta ou falta de oxigenação — que já
podem ser sinais de pneumonia, um dos estágios mais graves da covid-19.
As
autoridades alertam, no entanto, que é preciso se informar sobre os protocolos
de saúde do seu Estado ou município.
Como diferenciar?
A doença
que o vírus Sars-Cov-2 provoca, a covid-19, é uma infecção respiratória que
começa com sintomas como febre e tosse seca e, ao fim de uma semana, pode
provocar falta de ar.
De acordo
com uma análise da OMS baseada no estudo de cerca de 56 mil pacientes na China,
80% dos infectados desenvolvem sintomas leves (febre, tosse e, em alguns casos,
pneumonia), 14% têm sintomas graves (dificuldade em respirar e falta de ar) e
6%, quadros críticos (insuficiência pulmonar, choque séptico, falência de
órgãos e risco de morte).
Entre os
sintomas apresentados pelos pacientes, os mais comuns são a febre (cerca de 88%
dos casos), a tosse seca (quase 68%) e a fadiga (38%). A dificuldade de
respirar aconteceu em quase 19% dos pacientes, enquanto sintomas como dor de
garganta e dor de cabeça atingiram cerca de 13%. Já a diarreia foi um sintoma
de apenas 4% dos pacientes com o novo coronavírus.
No
entanto, um levantamento com mais de 2 mil pacientes publicado nesta semana na
revista científica Pediatrics mostra que os sintomas digestivos, como diarreia,
vômitos e dores abdominais, poderiam ser mais frequentes em crianças do que em
adultos.
Mas,
nessa época do ano, também é comum apresentar tosse, febre, dores na garganta e
na cabeça e sensação de fadiga por causa dos vírus da influenza, que provocam
as gripes comuns.
De acordo
com os especialistas, os sintomas devem ser monitorados e, caso permaneçam
leves, podem ser tratados em casa.
No
entanto, é preciso ter especial atenção a idosos e pessoas com baixa imunidade,
mais vulneráveis ao novo coronavírus, e consultar um médico em caso de dúvidas.
"A
gripe normalmente é a única que nos faz sentir dores musculares. E costuma
durar entre três e cinco dias. Essas podem ser indicações de que se trata de um
vírus comum", disse à BBC Brasil Heloisa Ravagnani, presidente da
Sociedade de Infectologia do Distrito Federal.
No caso
do resfriado, os sintomas costumam ser ainda mais brandos e, em geral, apenas
respiratórios — coriza, congestão nasal, tosse e dor de garganta, mas nem todos
ocorrem ao mesmo tempo.
"Caso
a pessoa esteja tossindo e tenha outros sintomas leves, não deve esquecer de
usar máscara ao entrar em contato com outras pessoas e de higienizar bem as
superfícies com as quais tiver contato. Ela pode não ter covid-19, mas, em um
momento como esse, todo cuidado é bem-vindo", diz a infectologista.
'Não é corona, é rinite'
Nos
últimos dias, alérgicos têm se justificado nas redes sociais pela frequência de
espirros, ou expressado confusão com os sintomas de rinite alérgica sazonal e
da covid-19.
Os
comentários renderam memes como a frase "não é corona, é rinite", que
já virou até proposta de camiseta para os período de distanciamento social
imposto pela pandemia.
As
síndromes respiratórias alérgicas, comuns em períodos como outono e primavera,
podem provocar coriza e congestão nasal, comuns a gripes, resfriados e à
covid-19. Mas são marcadas normalmente por espirros, e dificilmente provocam
tosse ou febre, explica Paulo Sergio Ramos.
"O
importante é que as pessoas, mesmo sofrendo de alergia, resfriado ou gripe
comum, mantenham a etiqueta respiratória. Ou seja, mantenham distância de 1
metro de outros espirrando ou tossindo; ao tossir ou espirrar, utilizem o
antebraço ou um lenço, que deve ser descartado; e lavem sempre as mãos após
tossir ou espirrar, para evitar disseminar outros vírus no ambiente",
alerta.
Seguir
estas regras também é importante pelo fato de que, de acordo com o mais amplo
estudo já feito até agora sobre o novo coronavírus, realizado pelo Centro de
Controle e Prevenção de Doenças da China, 80% dos pacientes terão apenas
sintomas leves.
No
entanto, há evidências científicas de que até mesmo uma pessoa sem sintomas
pode transmitir o vírus.
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