'Bolsonaro descontrolado' e 'manifestação de força': as diferentes visões da imprensa internacional sobre 7 de setembro
Num cartaz em inglês, manifestante pede a
destituição dos ministros do STF no protesto em São Paulo
8 setembro 2021, BBC Brasil
A imprensa internacional continuou
repercutindo nesta quarta-feira (08/09) a manifestação convocada pelo
presidente Jair Bolsonaro para o 7 de setembro.
Atos reuniram milhares de pessoas em Brasília, São
Paulo e outras cidades. Em dois discursos diante de seus apoiadores, Bolsonaro
chamou as eleições de 2022 de "farsa", disse
que só sai da presidência "preso ou morto" e exaltou a desobediência
à Justiça.
O jornal argentino La Nacion disse que "a
imagem do dia é um presidente descontrolado, jogando tudo ou nada".
"Enquanto a economia desacelera, a inflação
sobe e uma potencial crise energética assusta a população brasileira, Bolsonaro
opta por não governar e se dedicar a uma campanha eleitoral antecipada",
afirma a reportagem do periódico argentino.
"Haverá um antes e um depois das manifestações
convocadas nesta terça-feira pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, para
defendê-lo e, ao mesmo tempo, atacar aqueles que ele elege como inimigos. Há
consenso entre acadêmicos, intelectuais e no mundo político não-alinhado com o
chefe de Estado de que foram atos antidemocráticos, nos quais Bolsonaro fez 'um
discurso golpista', com foco em sua luta acirrada com o Supremo Tribunal
Federal."
Para dois jornais europeus, no entanto, os
protestos foram uma demonstração de força do presidente brasileiro.
O espanhol El País afirmou que Bolsonaro
"conseguiu a demonstração de força que procurava neste 7 de setembro, 199º
aniversário da independência do Brasil de Portugal".
ÇEl País:
"Bolsonaro endurece ameaça o Supremo Tribunal Federal em mobilização
massiva"
"Com o patriotismo e a liberdade como
bandeiras, o ultradireitista trouxe grandes multidões às ruas em meio à
pandemia de Brasília, São Paulo e outras cidades", escreve o diário
espanhol.
"Seu discurso, em tom messiânico e diante de
uma multidão, incluiu uma ameaça de golpe aos juízes da Suprema Corte
que o investigam por espalhar notícias falsas."
Imprensa internacional voltou a destacar nesta
quarta-feira os protestos de 7 de setembros convocados por Bolsonaro
"Como bom populista, o presidente de extrema
direita fala constantemente ao povo e se coloca acima do Congresso, como o
máximo intérprete dos desejos populares. Seus constantes ataques à separação de
poderes e seus gestos autoritários alimentam periodicamente o temor de um
autogolpe ou de algum tipo de quebra da ordem constitucional na terceira maior
democracia do mundo."
O jornal espanhol também traz uma coluna de opinião
da jornalista brasileira Eliane Brum no qual ela escreve: "O que fazer
quando um presidente se comporta como um terrorista e impõe o terror de Estado
a seus oponentes na data cívica mais simbólica do país?"
Le Monde destacou: 'Para o dia nacional do Brasil,
Bolsonaro consegue mobilizar amplamente e ameaça um pouco mais a democracia'
O jornal francês Le Monde também destacou a adesão
aos protestos convocados por Bolsonaro.
"Se dizia que ele está encurralado,
cambaleando. À beira do abismo, enfraquecido por uma impopularidade recorde,
vários inquéritos judiciais e crises repetidas. Mas talvez o tenham enterrado
um pouco cedo demais. Contra todas as probabilidades, Jair Bolsonaro conseguiu
na terça-feira, 7 de setembro, mobilizar seus apoiadores em massa nas ruas do
Brasil, por ocasião do Dia da Independêncial."
Brasil 'no limite'
Os jornais financeiros destacaram as incertezas do
Brasil diante das manifestações — e ressaltaram que pesquisas de opinião
mostram que o apoio a Bolsonaro está encolhendo no Brasil.
A manifestação convocada pelo presidente Jair
Bolsonaro para o 7 de setembro "alimentou a tensão que existe no
Brasil" e colocou o país "no limite", na avaliação do jornal
britânico Financial Times publicada na edição desta quarta-feira.
Segundo o britânico Financial Times, "os
protestos (convocados por Bolsonaro) geram medo de violência contra juízes após
críticas do presidente".
"Apesar das grandes multidões esperadas ontem,
um feriado nacional, a popularidade de Bolsonaro está diminuindo drasticamente,
já que sua retórica antidemocrática assustou muitos antigos apoiadores, como a
comunidade empresarial", afirma o Financial Times.
"Na avenida Faria Lima, em São Paulo, a versão
brasileira de Wall Street, executivos admitem silenciosamente que a turbulência
política está prejudicando os investimentos na maior economia da América
Latina."
Outro jornal influente na comunidade financeira
internacional, o Wall Street Journal, também publicou nesta quarta-feira
reportagem sobre os protestos de 7 de setembro.
Wall Street Journal: "Presidente Bolsonaro
reúne apoiadores antes da campanha de reeleição"
"Com seu índice de aprovação caindo em meio ao
aumento da inflação e 584 mil mortes por covid-19, Bolsonaro convocou seus
partidários para se manifestarem na terça-feira — o Dia da Independência do
Brasil — contra as instituições que ele afirma que estão prestes a derrubá-lo.
Além do tribunal superior, Bolsonaro está lutando contra promotores,
adversários no Congresso, a justiça eleitoral e alguns governadores de Estado,
incluindo o de São Paulo, João Doria. Ele também enfrenta o desafio de tentar
vencer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição do próximo
ano", destaca o jornal.
O jornal americano também destacou os ataques de
Bolsonaro contra a urna eletrônica.
"Observadores internacionais de democracia
elogiam amplamente o sistema de votação eletrônica do Brasil, mas Bolsonaro
disse que ele é vulnerável a fraudes", escreve o Wall Street Journal.
O jornal também cita entrevistas com cientistas
políticos que alertam que "o discurso inflamado de Bolsonaro na
terça-feira corre o risco de minar ainda mais a confiança dos brasileiros em
suas instituições, que já era baixa antes de ele assumir o cargo no início de
2019".
O jornal americano Washington Post destacou a
prisão de Jason Miller, ex-conselheiro do ex-presidente americano Donald Trump
e criador da rede social GETTR, que pretende abrigar os principais
representantes da direita global.
Quando deixava o país, na manhã de terça-feira,
Jason Miller foi conduzido à sala da Polícia Federal no Aeroporto Internacional
de Brasília para ser ouvido no âmbito do inquérito das fake news, sob o comando
do ministrodo STF Alexandre de Moraes.
"Jason Miller, ex-conselheiro sênior de Donald
Trump, disse na terça-feira que foi brevemente detido e interrogado pelas
autoridades brasileiras em um dia em que o país sul-americano se aproximava
ainda mais de uma crise constitucional completa", escreveu o Washington
Post.
"A popularidade de Bolsonaro despencou nos
últimos meses, à medida que o coronavírus devastou o país, a economia eliminou
milhões de empregos e as investigações sobre sua conduta se intensificaram. Seu
desconforto com as investigações tem alimentado comentários cada vez mais
belicosos, tanto dele quanto de seus apoiadores, alguns dos quais o pediram
repetidamente para liderar uma tomada militar do país e depor aqueles que
procuraram restringir seu poder."
O jornal britânico The Guardian destacava na sua
capa nesta quarta-feira uma reportagem intitulada: "Os obstinados apoiadores
de Bolsonaro vão às ruas do Brasil para incitar pelotões de fuzilamento e
golpes".
Na terça-feira, outros veículos como o The
Guardian, o New York Times, a Der Spiegel e o El Clarin também
haviam noticiado os protestos no Brasil.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-58486961
08-09-21
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